Um grupo de estudantes na Alemanha fez em uma espécie de TCC um vídeo não-autorizado para a Mercedes-Benz que tem causado polêmica. É uma peça de um minuto e 20 segundos que destaca a função Collision Prevent Assist do carro da montadora. Com esse mecanismo o carro consegue identificar obstáculos, como pedestres, e parar antes que um acidente aconteça. No filme, o carro para para duas crianças passarem, mas atropela um garotinho que representa Adolph Hitler, enfatizando que tem a capacidade de eliminar os perigos antes mesmo que eles aconteçam.
Quem me apresentou o vídeo foi meu amigo José Maurício Fittipaldi. Ele perguntou o que achava e demorei muito para responder porque tive que assistir várias vezes e pensar muito no assunto. Eu acho que o ponto alto do filme é a eficiêcia na transmissão da mensagem, mas depois de muito refletir, vi que não conseguia gostar do vídeo e que não é o tipo de trabalho que me orgulharia de fazer, por exemplo.
Tenho considerações sobre o vídeo, os criadores e a marca.
O vídeo é muito bem feito, uma superprodução, parece até um curta-metragem. Sei que a universidade é um espaço para experimentar e que inclusive algumas marcas reservam parte do orçamento de comunicação para alguns experimentos, mas a minha crítica aos profissionais é exatamente essa. Fazer um filme para uma marca nunca é liberdade total, há uma infinidade de código de conduta e questões éticas a serem levadas em consideração. Atropelar uma criança, ainda que ela represente um ser odiável, deixa um nó na garganta que me parece causar muito mais repulsa do que afeição à marca. E isso é problemático porque no fim das contas, uma marca se comunica para vender, criar uma boa imagem, manter relacionamento. Se os estudantes querem se manifestar da maneira como acham melhor, deviam pensar em um caminho de maior liberdade artística. Eu sempre acho que há maneiras inteligentes, criativas e nem um pouco caretas de se falar sobre qualquer coisa.
Outro ponto é o posicionamento da Mercedes-Benz. Obviamente eles não têm nada a ver com a produção disso e acho que também não precisam ficar censurando e impedindo porque está claro que não estão associados ao filme. Tenho juntado material para escrever melhor sobre isso, mas eu acho que as marcas que não têm um rumo muito claro e definido de comunicação dão mais brecha para amadores e até consumidores insatisfeitos criarem seus próprios discursos em cima de seus produtos e serviços. A prova de que a Mercedes não sabe muito bem o que fazer com sua comunicação, pelo menos no Brasil, é a propaganda em que usou a música lek lek lek para tentar vender o Classe A.
http://youtu.be/MZGPz4a2mCA