Nos dias em que o mundo parou para entender como enfrentar a pandemia, muitas marcas se viram obrigadas e/ou motivadas a produzir conteúdos sobre coronavírus. Equipes de comunicação e agências tiveram que rever logo suas estratégias, pois os impactos do acontecimento no rumo dos negócios também foram percebidos de forma mais ou menos severa, dependendo do setor de atuação.
Para mim, que adoro fazer esse tipo de observação, foi um prato cheio. Como, do ponto de vista do conteúdo, as empresas estão dando conta de lidar com o imponderável? O que é possível criar de bom do ponto de vista informativo e criativo em torno de uma situação absolutamente desafiadora, indefinida e inédita, sem qualquer precedente e manuais de instrução? O que parece funcionar mais ou menos?
Eu sempre acho que bom conteúdo é resultado de uma combinação entre capacidade de planejamento, voz de marca e aquela margem necessária de flexibilidade para acompanhar a movimentação social e cultural, sabendo encaixar, de preferência de um modo criativo e autêntico, o repertório e o universo cognitivo da marca em uma conversa maior. O fator coronavírus nos desafiou a tudo isso e, na minha opinião, algumas marcas se destacaram nessa tarefa, umas caíram na mesmice e lugar comum que deveriam evitar.
Felizmente, não vi nada que me tenha parecido muito grotescamente errado, pois de uma forma geral, todas as comunicações me pareceram prudentes, bastante cautelosas e cientes da gravidade da situação.
Vou falar brevemente do que vi e não achei tão legal. A maioria das marcas se viu obrigada a dar explicações sobre o coronavírus, o que, ao meu ver, deveria ser uma função das instituições governamentais relacionadas à saúde e infectologia, como Ministério da Saúde, Secretarias de Saúde (no caso fui buscar na do Estado e Prefeitura de São Paulo), Instituto de Infectologia Emílio Ribas e Instituto Butantan. Mas, depois de um tempo, entendi a necessidade de fazer a informação circular e adaptar essa comunicação visual aos key visuals e linguagem de cada marca. Faltou, a meu ver, uma citação clara das fontes nesses casos. Em épocas de fake news, é muito importante que as marcas sejam muito claras e enfáticas sobre suas fontes de informação para a produção de conteúdo.
Outro ponto um tanto negativo é o tom monotemático. Acho que muitas marcas perderam a mão e abandonaram outros conteúdos. A meu ver, apesar da necessidade de rever o planejamento, nem todo negócio precisaria seguir esse rumo na sua comunicação.
Agora, eu vi casos bem bacanas em momentos diversos de toda essa situação que o coronavírus nos impôs. Digamos que a situação vem se agravando gradativamente desde a segunda-feira, 16 de março. O material a seguir foi observado no período de 16 a 23 de março de 2020, quando esse texto foi escrito. Para facilitar a análise, separei por momentos.
Passado o período em que as marcas tentaram explicar o que é o coronavírus, como se dá a transmissão e o que fazer para evitar a contaminação e transmissão (e eu não observei nada que valha muito destaque nem vindo das instituições oficiais), vi um período de atitudes em relação à contenção da disseminação vertiginosa do vírus. Vários negócios comunicaram seus procedimentos e modo de funcionamento (ou não) no período de incerteza. Alguns fizeram isso com mais criatividade. Chamaram-me a atenção os comunicados do Espaço Zebra, um ateliê de arte/ bar de drinks no centro de São Paulo, que caprichou na linguagem, e o Mercado Tulipa, um evento que reúne pequenos produtores e teria uma edição especial de Páscoa. No caso do Mercado Tulipa, eles foram felizes no visual dos posts.
Muitas marcas, especialmente as grandes, sentiram a necessidade de assumir uma posição institucional em relação ao coronavírus e comunicá-la ao público em geral. Vi muita coisa nesse sentido e o que se destacou, na minha opinião, foi a Natura, que não foi tão imediatista, mas saiu com atitudes e mensagens totalmente alinhadas ao posicionamento da marca, seguindo o mote “Cada pessoa é um mundo, e todo mundo importa”. Além do compartilhamento em redes, a empresa também deixou a mensagem institucional sobre o coronavírus em destaque no site.
Conforme a semana avançou e, com o tempo, as autoridades começaram a tomar as medidas para restringir a circulação de pessoas em lugares públicos, evitando aglomerações, muitas empresas começaram a rever seus negócios. Canais de TV por assinatura antes muito restritos foram abertos a todos os assinantes, como forma de proporcionar mais atividades e manter as pessoas em casa, muitas marcas colocaram descontos em suas vendas online e ainda deram frete grátis, as empresas aéreas precisaram anunciar flexibilidade em relação aos cancelamentos e remanejamento de vôos nesse período.
Notei um mix de criatividade e generosidade interessantes nesse período. Destaco, no entanto, a iniciativa da Casa do Saber que deu acesso gratuito aos cursos on demand.
Outro material que me chamou atenção foi o documento que a IN Consultoria de Marcas divulgou na company page com “Boas Práticas de Liderança e Comunicação em Tempos de Coronavírus”, o que me pareceu bastante oportuno e adequado às propostas da empresa.
Nesse quesito também não tem para ninguém. O Panelinha, da Rita Lobo, foi muito perspicaz e conseguiu juntar rapidinho lé com cré e criar belas oportunidades para a marca, com as lives para estimular as pessoas a cozinharem durante a quarentena, dicas para escolher os melhores alimentos para se ter na dispensa, planejar a alimentação nesses tempos difíceis, entre outros assuntos correlatos. Vocês podem até me cornetar dizendo que conteúdo é o coração do negócio Panelinha e que sua marca que se ocupa com outras coisas principais não pode fazer algo parecido, mas aqui eu quero que você tenha referências do que é muito bom e saiba conduzir as coisas da melhor forma possível.
A Docol, fabricante de torneiras, também fez algo muito bacana no dia 22 de março, Dia Mundial da Água, lembrando a importância da água e da boa higienização das mãos para o combate ao coronavírus. Pertinente para o momento, não?
Curiosamente, um dos conteúdos que me chamou atenção foi de um escritório de contabilidade, uma categoria que, tradicionalmente, investe pouquíssimo (e quando o faz, geralmente é muito mal) em comunicação. A Sevilha Contabilidade fez uma série de lives em seu canal no YouTube trazendo palestrantes com temas muito interessantes sobre o momento: como manter sua empresa ativa, como entender e ajudar os clientes nesse momento, comentários sobre as medidas provisórias em torno da situação e estratégias de vendas em tempos de coronavírus.
Continuamos de olho, pois em tempos de incerteza, não sabemos muito bem o quanto esse tema ainda vai render e talvez venhamos a complementar esse post em um futuro próximo. Algo lhe chamou a atenção em relação aos conteúdos sobre coronavírus? Compartilhe conosco nos comentários.
Vamos desenrolar sua história?
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2 Comentários
Ana, sua capacidade de seleção das comunicações que empresas de diversos tamanhos e através de vários veículos é resultado da sua experiência como jornalista. A curadoria considerou um linhagem de relacionamento próximo, quase íntimo, oportuno para um momento de distanciamento.
Obrigada, Roger. Fico feliz que tenha gostado. Sigo analisando um montão de coisa e tentando organizar os pensamentos em forma de texto para compartilhar minhas reflexões. Acompanhe!